da intenção que nos move nada sabemos

Algures a memória doía, num ponto indefinido da paisagem onde os nossos olhares desabavam e as pedras fulgiam com uma luz que não era delas. Entretínhamos a vista ali, além dos montes. Nesse espaço negativo entre penedos onde a sombra recorta um enigma cavo e dilatado. O céu era uma mancha mal situada no mapa, sabida de cor. Desfocada e borralhenta como o lugar onde doía a memória. Também havia árvores q.b., um matagal frondoso, aquela região que as palavras nunca abarcam na sua totalidade — altiplano, dégradé, panorâmica. Vindos de muito longe, procurávamos um sítio onde pousar a cabeça e virar costas a esse outro urbano, penoso e decadente como uma espuma que se demora na lembrança. Trazíamos connosco a cabeleira da fuga, porque nos tinham dito o quão belo era partir e nós tínhamos acreditado. Somente a luz era ainda nossa, por termos deixado tanto para trás. Se a mantivermos acesa, não morreremos sozinhos.